O que é educação a distância na pandemia? “É uma educação bem distante de nós”, respondeu Bruna*, 12 anos, que passa dificuldades em casa por não ter acesso a um computador com conexão à internet para as tarefas de escolarização. “É difícil estudar em casa sem internet”, “Eu não tenho computador e uso o celular da minha mãe se ela estiver em casa”, “Preciso imprimir umas atividades da escola e não tenho conexão”. Frases como estas são repetidas no dia a dia de nossos educandos do Morro do Mocotó. Às vezes, são percebidas a ansiedade, a tristeza e a insegurança nos olhos daqueles que ainda não podem se conectar ao mundo.

Se o mundo evoluiu e a tecnologia veio para facilitar a vida moderna das pessoas no trabalho, no lazer e na educação, a escola da vida real separa alunos ricos de pobres, crianças do asfalto versus crianças morro. Mais do que isto, a escola da vida real, na pandemia, dificulta ainda mais o acesso ao conhecimento, privando os educandos da oportunidade de ter uma educação de qualidade e de ilimitados aprendizados. Mariane*, 12 anos, diz: “Passei de ano sem aprender nada, não tenho acesso à internet e não entendo sempre as atividades. É um ano perdido. Vou ficar prejudicada”. A desigualdade mais uma vez tem território, classe social e cor num país onde 65 milhões de pessoas não têm acesso à internet e onde os alunos das periferias e favelas são os mais excluídos neste sistema em que o livro é caro e a internet não chega.
No início do ano, a prefeitura de Florianópolis anunciou que os 35 mil alunos da rede municipal de educação iriam receber um chip de 20 GB por mês, no começo do ano letivo. Segundo o que o prefeito Gean Loureiro (DEM) publicou em sua conta no Twitter, isto seria o maior programa de inclusão digital em Florianópolis. No entanto, já quase em meados do ano letivo, este planejamento ainda não foi executado – ao menos não alcançou nossos educandos. Consequentemente, o acesso à educação à distância é um caminho muito distante para as oportunidades de aprendizado. Além disso, conforme divulgado no site G1, o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância informou que, em 2020, cerca de 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não frequentavam a escola (remota ou presencialmente) no Brasil e 3,7 milhões de estudantes matriculados não tiveram acesso a atividades escolares, não conseguindo estudar em casa.
A falta de uma administração pública séria para resolver os problemas da pandemia não só fez do Brasil um cemitério do mundo, de gente faminta, desempregada, mas também um país que sequestra, lamentavelmente, o futuro das nossas crianças e adolescentes.

*Os nomes dos educandos foram trocados para manter a privacidade.

Diogo Coelho
Educador Social