A parceria entre a ACAM e o Orgânico Solidário, iniciativa que está levando alimentos frescos e saudáveis às famílias em situação de vulnerabilidade social agravada durante a pandemia da Covid-19, vai muito além deste período e a doação de verduras, frutas e legumes continua no Morro do Mocotó. Na comunidade, são 100 famílias atendidas há quatro meses.

A cofundadora do Orgânico Solidário, Bianca Oliveira, afirma que o objetivo é gerar impacto de fato na segurança alimentar e nutricional nos locais onde atuam e que, para isso, é importante estabelecer uma relação de recorrência (semanal, quinzenal ou mensal). “Seguindo as orientações de coordenadores e assistentes sociais do Instituto Vilson Groh (IVG), organização social parceira em Florianópolis, estabelecemos esse trabalho junto à ACAM e CCEA (Centro Cultural Escrava Anastácia), até que o projeto consiga arrecadações suficientes para expandir para as outras ONGs da Rede.”

O presidente da ACAM, Cláudio Ramos Floriani Jr., é um entusiasta da ideia. Para ele, esta parceria mostra que a entidade não está preocupada somente com a segurança alimentar dos moradores, mas também com a qualidade dos produtos que consomem. “Poderíamos listar inúmeras vantagens, entre elas, incentivar o consumo de alimentos sem agrotóxicos e com isso melhorar a qualidade de vida das pessoas menos favorecidas e contribuir com a sustentabilidade ambiental; ser um dos atores da aproximação dos consumidores com os produtores, reduzindo custos de logística, promovendo distribuição de renda e favorecendo uma sociedade mais justa e igualitária. Estamos sempre abertos para novas possibilidades e iniciativas”, completa.

A coordenadora de Projetos Especiais da ACAM, Juliana Elesbão, acrescenta que há vários mercados no Mocotó, mas nenhum deles oferta frutas ou verduras. “A partir das doações do Orgânico Solidário teve mãe com bebês que disse que a agora podia pensar na papinha, planejar para a semana.” Ela conta que um menino pediu bergamota, disse que estava com vontade de comer. “Falei que bergamota não tinha e ofereci um laranja. Entreguei duas e ele saiu tentando abrir a casca como se fosse uma bergamota. A gente se choca, mesmo conhecendo a realidade, porque muitas crianças fazem as suas refeições dentro da instituição. Em tempos normais, servimos o almoço, o café da manhã, da tarde e a janta e sempre nos preocupamos com a qualidade dos produtos que servimos.”

Para Juliana, saber que as crianças não estão recebendo uma alimentação adequada, com nutrientes é uma grande preocupação e as caixas do Orgânico Solidário garantiram o aporte da qualidade dos alimentos e de vitaminas para esse público. “Sem esta parceria não conseguiríamos proporcionar este tipo de alimento, não teríamos condições. Com certeza, o projeto veio para ajudar a garantir uma melhor qualidade e segurança alimentar para as famílias.”

Doações

Bianca ressalta que enquanto houver apoio de pessoas e empresas comprometidas com a solidariedade às famílias mais vulneráveis e com o estímulo à agricultura orgânica, o Orgânico Solidário continuará o esforço para que alimentos de qualidade e produzidos de maneira sustentável sejam acessíveis para todos.

Ela diz que, além da ACAM e do CCEA, o projeto já atendeu diversas comunidades da Grande Florianópolis através da da AJPII e do Cedep, cada um recebendo 50 cestas, e na Ocupação Marielle Franco. Também houve campanhas direcionadas para fazer chegar em outros locais, como Carvoeira, Morro do Quilombo, Poção e agora, do Norte da Ilha.

Uma plataforma de doações foi criada para que as pessoas ou empresas possam ajudar por meio do cartão de crédito, boleto ou fazer uma assinatura solidária, cadastrar o cartão e fazer doação semanal e mensal, escolhendo a iniciativa e o estado que querem ajudar.

Quem doa pode contribuir com qualquer valor. A cada R$ 50,00, uma cesta é montada e o doador escolhe para qual comunidade listada no site do Orgânico Solidário quer destinar.

Quem é o Orgânico Solidário

Iniciativa nacional, que iniciou no dia 25 de março deste ano em algumas comunidades do Rio de Janeiro, a partir da dificuldade dos agricultores em escoar a produção, quando as feiras e as escolas fecharam e não estavam mais comprando devido à pandemia. “As crianças não estavam indo para a escola e muitas delas só faziam as refeições lá”, lembra Bianca.

Ela conta que havia um operador no RJ, que tinha conexão com os agricultores e uma estrutura para fazer um projeto piloto. Ele chamou pessoas com vontade de ajudar, inclusive da área de tecnologia para criar um site e uma plataforma para doações e da comunicação redes sociais para divulgar e dar alcance à proposta. “As campanhas e as primeiras doações começaram para ver como iria funcionar. Deu tudo certo. Em SP tinha uma pessoa que podia cuidar.”

Em Florianópolis, o cofundador David Frenkel acompanhava e fazia contatos com quem trabalhava com agricultura, agroecologia, permacultura, enfim, com quem conhecia a rede de produtores. “Todas as pessoas que a gente conversou indicaram a professora da UFSC, Thaise Costa Guzzatti, da Educação do Campo.

Ela é agrônoma e tem um projeto lindo há mais de 20 anos, fez o pós-doc na França que inspirou o Acolhida na Colônia, de turismo rural, onde as pessoas podem conhecer a vida no campo e consumir a produção local. Neste momento, todos estes produtores já estavam sentindo o impacto da pandemia”, conta Bianca. Também conta com a Agreco (Associação de Agricultores Ecológicos), totalizando 25 fornecedores.

Em Florianópolis não encontraram a figura de um operador com estrutura pronta de funcionários, equipe, galpão, caminhão para fazer chegar os produtos do campo à cidade. Tiveram que montar toda a logística. Através da Thaise, conseguiram disponibilizar com o reitor da UFSC pessoal dos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Ciências da Educação (CED). Assim, os agricultores vão até a UFSC, onde os produtos são recebidos e as cestas montadas por voluntários que se aproximaram da iniciativa por identificação. “Fomos atrás de gente que pudesse colaborar com um caminhão para as entregar.”

Mas eles precisavam saber quem estava precisando e quem iria fazer chegar os alimentos a estas pessoas. Foi então que entramos em contato com o Instituto Vilson Groh, que tem uma série de organizações que trabalham com crianças e adolescentes no contraturno escolar, que era o público-alvo. Através desta parceria, em quase cinco meses, foram entregues mais de 1000 cestas, mais de sete toneladas de alimentos orgânicos a cerca de 350 famílias.